quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O dinheiro, o banco e o Sr. Neves


Conheço gente que costuma guardar o troco de padaria naqueles tradicionais cofres de porcelana em formato suíno. A ideia é alimentar o porquinho frequentemente, mesmo que seja com alguns centavos, para que no final do ano se dê ao luxo de comprar um presente bacana. O problema é que muitos caem na tentação do chocolate, do picolé, da paçoca e de outros quitutes estrategicamente posicionados perto do caixa. De um jeito ou de outro alguém sempre acaba engordando, ou porquinho, ou o dono dele.

O pequeno Eike Batista resistia a todas as guloseimas possíveis, mas usava o troco da padaria misturado com o dinheiro de mentirinha do Banco Imobiliário, um jogo com o qual ele e seu avô costumavam brincar nas tardes de domingo. Sem querer, a criança foi aprendendo os conceitos básicos do capitalismo através de um simples jogo de tabuleiro. Hoje Eike Batista continua jogando Banco Imobiliário, mas agora tudo é de verdade e o jogo só acaba quando ele for dono de muitas outras empresas e se tornar o cara mais rico dessa galáxia.

Parece que pessoas como ele tratam o dinheiro como se fosse a coisa mais importante do mundo, como se o dinheiro fosse capaz de tirar o sossego até do mais tranquilo monge tibetano deitado na rede tomando água de coco nas suas últimas férias antes de se aposentar. Mas não adianta ter dinheiro se não tiver onde guardá-lo, por isso o banco é visto como a oitava armadilha maravilha do mundo.

O banco é um local teoricamente seguro, mas deve ser encarado como uma escola onde o gerente é o filho da p... professora que faz vista grossa para as atrocidades que sua cria provoca nos coleguinhas na hora do recreio. Se você nunca foi vítima de bullying na época da escola, pode experimentar essa sensação ao abrir uma conta no banco.

O gerente, aquele que deveria ter uma visão muito mais apurada que a sua a respeito da administração dos bens, muitas vezes não passa de um intrometido palpiteiro que quer fazer com o seu dinheiro aquilo que ele mesmo não consegue fazer com o dele. Se tirarmos sua gravata e a placa de “gerente” da sua mesa ele será só um sujeito sem muita credibilidade.
Então não espere que um funcionário que é pago para gerar lucro para a empresa ajude um simples cliente a fazer um bom negócio lá. Isso não existe.

No dia em que eu, cliente do banco, tive que explicar ao gerente a diferença entre “poupar” e “economizar”, juro que quase cobrei uma taxa pela informação, porque é assim que o banco também ganha dinheiro, com taxas e mais taxas. Aposto que o desgraçado está usando os meus conceitos numa palestra para funcionários do ramo e ainda está ganhando dinheiro com isso.

Talvez alguns leitores também não saibam a diferença entre “poupar” e “economizar”, mas não vou ficar dando informação de graça agora.  Quem quiser, que entre em contato comigo e eu darei um desconto pela consultoria se provar que é leitor do blog Dois Curingas. Ligue agora e comece a multiplicar seu patrimônio. Mas lembre-se: se seu patrimônio é zero, mesmo que multiplique por um milhão, será sempre zero. Eu faço contas, não faço mágica.

Já que propaganda é a arma do negócio, como já dizia uma música, contarei uma história para provar a eficiência e a veracidade dos meus serviços. Sr. Neves era um visionário com muitas idéias boas escondidas na cabeça e um exímio observador das coisas do mundo. Ajudei o Sr. Neves a expandir seu negócio e hoje ele é considerado uma lenda do empreendedorismo. Dizem que ele foi tão bem sucedido profissionalmente que em pouco tempo já estava curtindo a vida bem longe do caos urbano. Aliás, longe de tudo, do jeito que ele sempre quis. Desde então Sr. Neves nunca mais foi visto.

Isso foi há muito tempo, suspeitava-se até que ele já tivesse morrido, mas uma foto publicada recentemente em sua suposta conta no Facebook sugere que ele esteja numa região inóspita do Alasca. Acabou virando uma lenda em cima de outra lenda, mas essa última todo mundo conhece. Já ouviu falar do Abominável Homem das Neves?


Guigo é autor do blog www.doiscuringas.blogspot.com, sócio do Sr. Neves e costumava receber balas ao invés dos R$0,03 como troco da padaria. Até que num dia ele pegou um pacote de balas, abriu ali mesmo no balcão, deu metade para a moça do caixa, distribuiu o resto para o pessoal da fila e saiu, “sem pagar”, com os quatro pães e 60g de queijo muçarela. Desde esse dia a padaria nunca mais deu bala para os fregueses, nem no dia de São Cosme e Damião.

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