quarta-feira, 27 de junho de 2012

Momento crítico de cinema

Ao mesmo tempo em que a tecnologia evolui para atrair mais pessoas ao cinema, também evolui para que essas mesmas pessoas não saiam de casa porque hoje a tecnologia já oferece TV Led 3D, home theater, blu-ray e outras parafernálias. Montar uma estrutura de cinema em casa sai caro, mas não precisa tanta tecnologia assim se você está mais interessado na história do filme do que nos efeitos visuais e sonoros. O que vale é o conjunto da obra e sabemos que dá para assistir com o que você tem em casa, não dá? E não reclame! Antes o cinema era mudo, em preto e branco e todo mundo achava fantástico. De duas, uma: ou você é muito exigente ou muito mimado.

Comédia é o pior tipo de filme para se assistir no cinema. Às vezes a cena nem é tão engraçada assim para merecer uma gargalhada, mas basta alguém começar a rir que a maioria em volta rirá também. Eu sei, é contagioso, é do ser humano, assim como acontece quando alguém boceja. É inevitável.

Em algumas séries de TV acontece algo parecido. Já assistiu Friends, Two and a Half Men, Chaves, Zorra Total? Eles colocam aquelas risadas no meio da cena para ela parecer mais engraçada do que realmente é, ou quando ela deveria parecer engraçada. E você ri junto com esse truque barato e muito eficiente dos programas de TV.

Um sarcástico diria que essas risadas servem para avisar telespectadores burros a hora certa de rir. Aquela história de que "quem ri por último ri melhor" não existe para ele, quem ri por último é porque demorou para entender a piada. Já para um irônico aquelas risadas não passam de uma reversal russa; se aqui é você quem ri da piada, lá é a piada que ri de você. De fato, a TV acha que você é um idiota e debocha da sua cara o tempo todo. Se você fosse uma TV também riria daquele cara no sofá que passa horas te olhando todos os dias.

Na sétima arte tudo que um filme precisa ter é começo, meio e fim, mas quando ele vira sucesso de bilheteria já tratam logo de fazer uma sequência cujo desafio é fazer com que o público pague de novo para ver mais do mesmo sem que se sinta enganado. Devido à falta de criatividade, ou preguiça de trabalhar, às vezes usam a tosca ideia de contar uma história antes daquela contada no primeiro filme. É esquisito, mas a continuação do filme nem sempre é uma "continuação" porque contam a história do vilão antes de se tornar vilão, do herói antes de ser herói e, nas entrelinhas, contam a sua história antes de se arrepender de ter comprado o ingresso do cinema no primeiro filme.

O segundo filme de uma franquia costuma ter mais clichês que o primeiro, mas ele costuma vir disfarçado com uma fórmula caça-níqueis para arrecadar bastante em bilheteria e enriquecer ainda mais os produtores. Quanto mais clichês o filme tiver, mais chances ele terá de ser exibido na Sessão da Tarde alguns anos depois. Isso pode demorar, e muito, mas até lá você já terá assistido ao filme num DVD pirateado alugado.
É difícil perceber esses detalhes quando você já está dentro do cinema porque lá existem outras coisas distraindo sua atenção. Tem o barulho do moleque ao lado comendo pipoca, alguém falando ao celular, o cabeçudo da poltrona da frente, aquele casal que deveria estar no motel, alguém com gases e talvez nem a poltrona seja tão confortável assim. E muita gente ainda paga por isso achando que está fazendo um bom negócio.

Quase ninguém sai de casa só para ir ao cinema, por isso cinemas em prédios próprios não costumam durar muito. Pelo menos foi assim nas cidades da região onde moro. Aqui, onde antes era um cinema hoje é uma grande loja. Em outro local o cinema deu lugar a uma concessionária e ainda há um outro espaço que já foi uma lanchonete, que transformaram em cinema, que depois virou salão de festas para aniversários e casamentos. Não durou muito, não só o salão, como também os casamentos que aconteceram lá. Só falta agora o local virar igreja. Quer saber? Como meu pai já disse, melhor mais uma igreja do que mais um bar.


Cinema em shopping é um negócio bem mais vantajoso. Não para você, claro. As pessoas vão ao shopping para se distrair, passar o tempo e podem entrar no cinema do mesmo modo que entram numa loja, só para darem "uma olhadinha" e aí acabam gastando à toa.

O shopping em si é um negócio projetado para você perder a noção do tempo (e do dinheiro). Não há janelas ou relógios nas paredes, logo, você não sabe se está dia ou noite, se está chovendo ou não. É tudo estrategicamente pensado para você gastar mais tempo e dinheiro lá. Por que você acha que a praça de alimentação fica logo na saída do cinema? É claro que o cinéfilo vai comer um lanchinho depois de quase três horas de filme.

Todo mundo sabe que tempo é dinheiro, mas no shopping essa equação é um pouco diferente. A despesa com sua ida ao cinema no shopping vai além da compra do ingresso. Comece incluindo a grana do estacionamento e, dependendo da sua disposição, considere também aquela bermuda em promoção, o boliche com os amigos, uma bebida, o presente de aniversário da sua avó e o tempo de espera enquanto sua namorada experimenta roupas e sapatos. Tudo isso sem contar a fila do cinema e o risco de você não gostar do filme.

Uma vez o sono me venceu quando reservei mais de duas horas do meu precioso tempo para ver um filme em casa. Cochilei no sofá e quando acordei no meio do filme nem lembrava mais o que estava assistindo. Ainda sob efeito do sono vi uns caras azuis numa cena lá e fiquei sem saber se era Avatar, ou Smurfs ou se era apenas uma propaganda daquela operadora de celular. Pensando bem, podia ser até parte do cenário do show do Roberto Carlos. Vai saber, né?


Guigo é autor do blog www.doiscuringas.blogspot.com e sempre espera os filmes do cinema serem lançados em DVD para assisti-los quando, como e quantas vezes quiser no conforto de sua casa sem ninguém lhe enchendo o saco, mas admite que às vezes não tem paciência para ver os extras.

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