domingo, 29 de abril de 2012

Uma conversa colorida

Em um ponto de ônibus de uma cidade qualquer, terça-feira, 6h07min:

— Bom dia!
— Bom dia.
— O ônibus para o centro já passou?
— Ainda não.

Silêncio. Alguns minutos depois ele tenta puxar assunto para se distrair enquanto o ônibus não chega.

— Tá frio hoje, né?
— Pois é.
— E essa chuva que não passa...
— Pois é.

Por um momento pensou que o outro não estivesse tão a fim de papo, mas falar sobre o tempo não era mesmo um assunto interessante. Tentou de novo:

— Olha aquele cara passando do outro lado da rua. Você não acha que esse negócio de usar camisa rosa é coisa de veado?
— Não. O cara tem que ser muito macho pra usar camisa rosa.
— Pra mim é coisa de veado.
— O cara é esperto, ele sabe que rosa chama atenção da mulherada. Às vezes chama atenção de alguns "homens" também, mas...
— Sei. Só se chamar atenção de um veadinho.
— Então... chamou a sua atenção.
— Sai fora! Meu negócio é mulher.
— Então pára de olhar pra ele, senão vão achar que você está paquerando o "veadinho".
— Sai fora. To olhando porque é ridículo, pra sacanear só.
— E aquilo não é rosa, é salmão.
— Quê!?
— Salmão. Não existe só verde, amarelo, azul... Tem ainda malva, fúcsia e...
— Fu... o quê?
— Fúcsia.
— Ah! Vá se fu...
— É fúcsia! – interrompe já prevendo que o outro falaria um palavrão – E ainda tem verde musgo, azul petróleo, bege copacabana...
— Peraí! Agora as cores tem nome e sobrenome? "Bege copacabana"!? Cê tá de sacanagem, né?
— Deixa pra lá, meu ônibus chegou. Tenho que ir, José. Tchau! – diz já quase entrando no ônibus.
— Como você sabe meu nome?
— Está escrito na etiqueta anil da sua mala.
— Anil?
— É, anil, aquela cor que tem no arco-íris.
— Mas... mas... peraí... – diz enquanto observa a etiqueta da mala.
— Tchau, José. Prazer em conhecê-lo. Olha lá! Aquele "veadinho" está voltando, acho que ele gostou da sua camisa azul-calcinha. – diz, mentindo só para provocar, enquanto a porta do ônibus se fecha.
— Azul o quê? Hei! Volta aqui seu filho da p...!
Já dentro do ônibus o outro fala pela janela:
— Não me leve a mal, José, mas acho que você deveria ir ao médico para ver se seu problema é daltonismo ou só ignorância mesmo.

E o ônibus partiu. Alguns lá dentro começaram a rir da cena e José começou a ficar vermelho de raiva. Um vermelho sangue, sabe?

Moral da história: sua mãe tinha razão quando dizia para você nunca puxar papo com estranhos, mas não falou nada sobre sacanear estranhos que puxam papo.


Guigo é autor do blog www.doiscuringas.blogspot.com e limita-se apenas ao "bom dia", assim mesmo sem exclamação, quando está no ponto de ônibus. E isso quando está de bom humor.

Um comentário:

  1. Gui (ainda te chamam assim?), passei para dizer que curti muito este texto. Não sei até onde a história é verídica, mas fiquei imaginando a situação... muito bom! Gostaria de compartilhar no FB, mas não tem nenhum botão pra isso. Será que posso copiá-lo depois? Deixarei bem claro a autoria e o link para o blog.
    Abs!

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