terça-feira, 23 de agosto de 2011

Coisas do meu Brasil

Millôr Fernades disse uma vez que "toda lei é boa desde que seja usada legalmente". O tom irônico da frase remete àquilo que algumas pessoas fazem: usam a lei quando convém. E tem sido assim desde que descobriram a corrupção e inventaram o Brasil.

Inventaram, mas não patentearam, por isso cada um usa como quer tudo que envolve esse país, até o nome. Em algum lugar lá fora, por exemplo, o Brasil é com "z", mas quando um palhaço teve que provar que era alfabetizado para se mudar para Brasília aí os brasileiros perderam de vez a moral de discutir qualquer coisa com os gringos, inclusive ortografia.

Aqui existe um jogo chamado Constituição, criado pelos caras da lei, onde todos são obrigados a jogar. É um joguinho infantil cheio de regras estranhas, mas na maioria das vezes o modo como a regra é transmitida é mais importante que o conhecimento que se tem dela. Essa é a principal estratégia do jogo. Além disso, as regras possuem brechas propositalmente elaboradas para que os advogados possam fugir caso enfrentem alguém mais inteligente que eles. E isso acontece com frequência.

Para quem não sabe, advogado aqui é aquele cara que precisou de quatro anos de faculdade só para decorar que "os fins justificam os meios" mesmo sem ter entendido porra nenhuma de "O Príncipe", do Maquiavel. Alguns dessa espécie tem problemas de autoestima e por isso exigem que sejam chamados de "doutores", mas ainda há aqueles que de tão bons e justos parecem estar na profissão errada.

Os brasileiros, num modo geral, tem uma cultura rica e são bons em muitas coisas. Exportam muito além de samba, MPB e jogadores de futebol, mas ainda falta alguma coisa para esse país ser levado a sério. Falta coragem para assumir que existem problemas sérios de educação, de saúde e de violência, ao invés de mascarar todos esses índices na imprensa. Não é difícil perceber que um problema leva a outro e que deveriam investir muito na educação, primeiro a "de casa", depois a "de escola", se é que podemos chamar assim.

O povo reclama da corrupção dos políticos, mas no dia a dia vemos uma multidão fazendo a mesma coisa que eles, só que em escalas diferentes. Logo, o que essa gente sente não é raiva, é inveja, já que muito brasileiro roubaria até mais que os próprios parlamentares se estivesse no lugar deles. Aí você pergunta: então por que esse povo não vira político? Porque até para ser político precisa ter um certo “talento” e muita cara de pau. Se você se encaixa nesse perfil e já jogou no lixo sua ética profissional então você tem grande chance de conseguir um cargo nesse território politicamente podre. Assim:

1) Durante o horário de expediente passe mais tempo tomando café do que trabalhando;

2) Vire amigo das pessoas certas;

3) Pronto! Agora é só esperar sua nomeação e você poderá fazer as mesmas coisas que fazia antes (ou até menos), mas com um salário maior. E continue tomando café.

O Google me disse que
os parlamentares daqui estão entre os mais caros do mundo e que o minuto de trabalho deles custa ao brasileiro R$ 11.545,00. É mais ou menos assim: enquanto você em três minutos só consegue preparar um miojo, os parlamentares em três minutos leem esse texto, comem seu miojo e ainda ganham R$ 34.635,00.

Não fique espantado. No resto do país muita gente tira quase 20 HORAS por mês só para o cafezinho e todo mundo acha normal. Duvida? Então comece a observar e faça as contas. Isso tudo sem contar o tempo altamente produtivo de fofoca na sala do colega, as idas ao supermercado, as horas no Facebook, no MSN... tudo em horário de expediente. Quanto tempo você acha que esse povo realmente trabalha num dia?

Nesse país que tem um dos maiores níveis de corrupção por metro quadrado muita coisa é imoral, mas não é ilegal. Não há ordem nem progresso no que realmente interessa para o país. Aliás, ordem e progresso são coisas que só vemos na bandeira e mesmo assim só para quem sabe ler. E dizem que aquele palhaço sabe.

Ah! Não se ofenda com o único palavrão do texto. Segundo Chico Anysio, o "porra" é só uma vírgula. Quantas vezes você já não ouviu fulano falar assim: "perdi o ônibus porra vou chegar atrasado porra meu chefe vai me matar porra..." Agora você sabe que porra é essa.



Guigo é autor do blog www.doiscuringas.blogspot.com e passa boa parte do seu tempo disfarçado de idiota, inclusive nas férias.

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